Os 18 anos do Plano Real

No último dia 1º de Julho, passou praticamente despercebido o aniversário de 18 anos do Plano Real. Em outubro de 1992, com o afastamento, após um tumultuado processo de impeachament do então  presidente Fernando Collor de Mello, restou ao vice Itamar Franco tentar resolver o problema da hiperinflação que tomava conta do Brasil.

Brasileiros de até 30 anos, que nem tinham nascido ou eram muito pequenos, não têm noção do que era viver num País com a inflação anual que atingiu, num período de 12 meses, quase 5.000%. O ápice foi num mês em que chegou aos quase 80%. Remarcações de preços diárias em mercados, em algumas situações, várias vezes ao dia; escassez de financiamento e, principalmente, dificuldades para planejar o futuro das empresas e das pessoas.

Vivia-se de acordo com a filosofia dos AA: um dia de cada vez! Para facilitar o entendimento do que era a inflação daquela época – a inflação anual de hoje correspondia a de um único dia daquele tempo -, quem comprasse, no dia de hoje, um iPod por R$ 500,00, daqui a um ano teria de desembolsar pelo mesmo aparelho a importância de R$ 25.500,00.

Vivia-se de acordo com a
filosofia dos AA: um dia de cada vez!

Vários planos anteriores ao Real tentaram resolver o problema da inflação crônica que existia no Brasil, sendo que os mais recentes foram o Plano Cruzado, na época do presidente Sarney, com o congelamento de preços; o Plano Verão; o Plano Bresser e, o mais truculento de todos, o Plano Collor que, dentre muitas barbaridades, confiscou o dinheiro que os brasileiros tinham depositado ou aplicado em bancos. Foi uma verdadeira bomba econômica, pois, a partir do dia 16 de março de 1990, as pessoas e empresas ficaram sem dinheiro para tocar suas vidas.

Criaram-se situações desesperadoras como, por exemplo, da pessoa que tinha depositado no banco o dinheiro referente a venda de um bem, visando fazer um novo negócio ou investimento, e ficou com o valor preso. Ocorreram casos de pessoas que se suicidaram por causa disso. Claro, depois, sob justificativas, o dinheiro foi liberado. Usando uma expressão do ex-presidente Lula, nunca antes na história deste País os cidadãos foram tão humilhados. O pior de tudo é que o Plano Collor não serviu para nada ou, talvez, para mostrar como não se deve fazer.

Ao substituir Collor, o vice Itamar Franco chamou o então ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, para assumir o Ministério da Fazenda. Já em dezembro de 1992, o novo governo lançou o Plano de Estabilização Econômica, com o objetivo de preparar a economia para uma nova moeda, o Real, que passou a circular em 1º de julho de 1994. O programa foi desenvolvido ao longo de um ano por um grupo de economistas, que apresentava características diferentes dos planos anteriores: foi anunciado com antecedência; não houve retenções de dinheiro nem congelamentos; sem conversões e, acima de tudo, sem dramas. Foi um período em que todos os contratos, salários e preços foram indexados em URV (Unidade Real de Valor). O programa foi tão eficaz que, em 1994, a inflação acumulada era de 916,50% e, no ano seguinte, caiu para 22,40%.

Hoje, 18 anos depois, período em que o Brasil conseguiu promover o controle da inflação e garantir uma estabilidade econômica, muitos governantes e políticos também se elegeram e se reelegeram por causa da eficácia do Plano Real. Entretanto, ainda restam muitos desafios, considerados verdadeiros entulhos principalmente no momento em que o País está atravessando um dos períodos mais críticos dos últimos anos.

De acordo com economistas e analistas especializados, necessitam de revisões, mudanças e ações concretas, com urgência:

1) Indexação excessiva, em salários, telefones e financiamentos;

2) Juros: na prática, precisam cair muito mais;

3) Custo Brasil: impostos estão muito altos e incidentes, em maior peso, sobre o consumo, penalizando as pessoas de menor renda

Infelizmente, parece que o governo federal não tem estratégia de longo prazo e suas ações são caracterizadas por medidas paliativas, tentando apagar incêndios com mangueiras que não alcançam o fogo. Atualmente, só se vê medidas voltadas para aumentar o PIB e investimentos em estádios de futebol, aeroportos e infraestrutura para facilitar a mobilidade social entre esses dois pontos.