Das duas uma: ou as assessorias de imprensa das autoridades fluminenses consideram o povo completamente idiota, ou está faltando aos repórteres um pouco mais de criatividade (e/ou interesse de seus respectivos veículos) na hora de formular as perguntas aos políticos que vêm se manifestando em relação à tragédia que acomete a Região Serrana do Rio de Janeiro nos últimos dias.
Como sempre, após o problema – que, no caso, embora tenha sido agravado por níveis pluviométricos acima da média, não pode ser tachado como algo da ordem do inesperado, dado que se trata de um fenômeno basicamente sazonal – a regra geral é falar em investimentos. Cifras, cifras e mais cifras, além de conclusões óbvias, como “é preciso fazer obras de drenagem” e “encostas são áreas de risco”, também assinadas por engenheiros midiáticos, são anunciadas para confortar os ouvidos dos telespectadores. Isso sem contar os passeios de helicóptero que, no fim das contas, representam mesmo é mídia para figurões dos altos escalões do poder.
Bem, já que político vive de retórica, cabe aos jornalistas procurarem formas de extrair respostas mais objetivas, que, ao menos, possam dar conta de questões como;
1) por quê não foi investido o montante de recursos que deveria ter sido aplicado nos últimos anos nessa sensível região, a fim de prevenir a recorrência de casos como o de agora?;
2) por quê cargas d’água (com o perdão do trocadilho) o crescimento desordenado em morros e encostas continuou?;
3) quando será elaborado um programa de habitação que possa realocar pessoas que vivem em áreas de risco, sem que isso signifique uma substantiva perda de qualidade de vida para elas?, etc..
1) por quê não foi investido o montante de recursos que deveria ter sido aplicado nos últimos anos nessa sensível região, a fim de prevenir a recorrência de casos como o de agora?;
2) por quê cargas d’água (com o perdão do trocadilho) o crescimento desordenado em morros e encostas continuou?;
3) quando será elaborado um programa de habitação que possa realocar pessoas que vivem em áreas de risco, sem que isso signifique uma substantiva perda de qualidade de vida para elas?, etc..
Claro que, dito assim, parece fácil. Imagino que tais perguntas tenham sido feitas de fato. O que talvez esteja faltando é adotar novas estratégias de apuração, que envolvam uma reformulação da “agenda setting”, isto é, da própria pauta, alterando, por exemplo, os modelos de seleção de fontes e hierarquização da informação, e, consequentemente, as próprias perguntas que deverão ser feitas. E, como complemento, resultado ou mesmo causa (depende do ponto de vista) é necessário rever a exigência por leads que contenham ações de visibilidade e espetaculares, cifras ou frases de efeito, por mais vazias que sejam.
Com a proliferação de assessorias de imprensa que ocorre nos dias de hoje, é fundamental que os repórteres se reciclem e reavaliem até os mais consolidados paradigmas. Do contrário, as respostas prontas, estilo ready-made, prevalecerão nos holofotes, ofuscando amiúde informações de real interesse social.
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